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19 junho 2017

Uma viagem ao Mosteiro do Vale do Silêncio


Integrado no programa da Feira de Tradições que decorreu em Lorvão de 14 a 18 de Junho, foi apresentado, no dia 17 à tarde, o livro “No Mosteiro do Vale do Silêncio” da autoria de Sónia Marques Carvão, editado pelo Município de Penacova. Na sessão de lançamento esteve presente Humberto Oliveira, Presidente da Câmara, Fernanda Veiga, Vereadora da Cultura, Rui Baptista, Presidente da Junta de Lorvão e José Pisco, Guia do Mosteiro.
Depois de muita bibliografia de carácter historiográfico sobre Lorvão, surge agora “este pequeno romance” que “pretende dar a conhecer a presença dos beneditinos nesta região e despertar interesse pelo conhecimento da sua história em todos os âmbitos da sua expulsão”, “sensibilizando para uma época e para um Mosteiro “, conforme se pode ler nas páginas introdutórias. “Sem entrar em detalhes de actos históricos, mas recorrendo a alguns deles para desenvolver o romance – que é disso que se trata - foram lidas algumas obras para nos inteirarmos de alguns aspectos importantes” – salienta também a autora.


O romance tem como personagens principais um jovem monge, Bernardo, a jovem Clara, uma rapariga do “povoamento” e o Abade Lucas. Trata-se de uma viagem no tempo. Viagem ao passado, envolta numa dinâmica de regresso ao futuro. É que, depois de muitos séculos, o Mosteiro de Lorvão, vê regressar os Beneditinos, dando assim, vida e dinâmica aos espaços que, com a saída do hospital psiquiátrico, se encontravam à espera de uma utilização condigna.
“Um clarão como se fosse um relâmpago bateu no grupo e no círculo ao mesmo tempo. Alguns bordados de algumas aves foram transformados em penas no momento em que a viragem para o futuro se deu. Todos juntos chegaram ao cimo das escadas do mosteiro actual.”
Claro que todo este processo gerou alguma perplexidade na pacata vila.
“Vem ali outra pessoa! - exclamou o monge Antão quando um rapaz se dirigiu à porta da igreja do mosteiro.
- Boa tarde! – sou o guia deste mosteiro, quem são vocês pelo vosso traje? – perguntou o guia do mosteiro um pouco espantado.
- Somos os beneditinos deste mosteiro – respondeu o Abade Lucas. (…)
- Mas os beneditinos que estiveram neste mosteiro estiveram no século XII. Não podem ser vocês! – exclamou o guia.
- Nós somos os beneditinos que estiveram neste mosteiro no passado, só que fizemos uma viagem ao futuro. Estamos aqui porque estávamos no passado que era nosso presente e quisemos viajar ao seu presente, para nós era futuro que agora também é presente. Íamos ser expulsos. -disse o monge Bernardo…”
No entanto o fulcro do romance é a relação amorosa entre Bernardo e Clara (que nessa viagem ao futuro acabam por casar em 2016 na igreja de Lorvão). Mas voltando aos tempos medievais, tudo começou quando o monge e a jovem aldeã deram o primeiro beijo:
“Nesse momento, Clara não esperou por mais nada e beijou-o. O jovem monge esqueceu-se que era monge e aquele momento configurou-lhe o mundo como uma corrente que corre no leito profundo.”
E mais adiante, encontramos a seguinte passagem:
“- Vou copiar o códice do livro das Aves o mais rápido possível, tenho algo em mente. [diz Bernardo]
- O que tens em mente?- perguntou Clara.
- Direi, mas não hoje. – respondeu e foi para a sua tarefa.
Enquanto isso, os irmãos perguntaram:
- Que relação tens com o jovem monge, Clara?”
Como lidar com tudo isto?
O romance tenta explicar, e prepare-se o leitor para uma leitura mais demorada pois vai encontrar passagens como esta:
“Como poderia existir sensorialidade sem materialidade? Para os beneditinos a sensorialidade podia ser o avesso que seria o direito. Noutro sentido, e esta sensibilidade era levada pela transcendência, a fim de ser visto o invisível ou aquilo que está naquilo que o outro não vê, poderia existir sensorialidade sem materialidade …”
O livro tece também longas considerações sobre a regra de S. Bento, aborda Teologia e Filosofia. A dado passo, imagine-se, Clara recebe uma lição de filosofia:
“Nem um nem outro responderam e o jovem monge preferiu explicar a Clara o que era a dialética de Pedro Abelardo…”.

Uma obra que certamente vai cumprir os seus objectivos: cativar (e desafiar) o leitor, promover um maior conhecimento e sensibilidade sobre o Mosteiro de Lorvão, cuja história, não se escreve apenas no feminino, mas nos remete também para a acção dos monges negros, isto é, dos monges beneditinos que estiveram na origem do cenóbio laurbanense.

15 junho 2017

Os monges negros de Lorvão: sombras e realidade

Que me desculpe o Professor Nelson Correia Borges por usar parte do título da sua obra magistral (tese de doutoramento)  "Arte Monástica em Lorvão: Sombras e Realidade".
Em 27 de Maio publicámos na página do Facebook associada a este blogue um pequeno apontamento sobre uma iluminura alusiva à criação de Eva, proveniente do  scriptorium laurbanense . Foi numa tese de Regina Neto que encontrámos, não só essa referência, como também inúmeras páginas dedicadas aos monges de Lorvão. Sobre Lorvão muito se publicou já. Vai agora ser lançado um livro cuja acção tem lugar "No Mosteiro do Vale do Silêncio". Segundo a autora, Sónia Marques Carvão, trata-se de um "romance sobre os beneditinos, ficcionado, mas baseado numa investigação e leitura da Regra de S. Bento entre outras obras e em alguns factos históricos."
A dissertação de mestrado, acima referida (leia AQUI) que nos chega da Universidade de S. Paulo apresenta-nos alguns dados que complementam os estudos feitos em Portugal e nos podem ajudar também, neste momento, a compreender as questões históricas para as quais o livro (que será apresentado no próximo sábado em Lorvão)  nos vai remeter.
Escreve Regina Neto que "Lorvão foi um mosteiro considerado rico para a época, em especial para o século XII". Os seus ocupantes terão sido, assim, "expoentes dos maiores protagonistas da região de Coimbra na tarefa de valorização económica do território e na reorganização da diocese". ricos monges possuíam uma longa tradição de autonomia" e acrescenta que "a documentação do fim do séc XI evidencia a aceitação de monges de todas as origens sociais e a existência de comunidades numerosas".  A revista Munda, publicou em 1987 um artigo que suscitou algumas dúvidas sobre a questão da regra seguida: cf. Schedel, T. "A saída dos monges negros do Mosteiro de Lorvão". Este artigo, é mencionado por Regina Neto, recordando que "a bibliografia mais recente aponta dúvidas quanto à observância da ordem beneditina no mosteiro até ao século XII sem, no entanto, fornecer maiores detalhes".  Por isso, escreve que "tendo provavelmente  adoptado a Regra de S. Bento em 1085 o rico mosteiro foi doado à Sé de Coimbra, em 1109." A passagem suscitou protestos dos monges que apenas recuperaram a independência em 1116. Começava assim uma certa "guerrilha" que culminou com a sua "expulsão" quando "foram envolvidos, no início do séc XIII, numa séria contenda com a coroa e com o bispo de Coimbra que os acusou de descalabros materiais e espirituais".



Existe um manuscrito da Regra de S. Bento, pertencente ao Mosteiro de Lorvão, datado de 1546, que ainda recentemente foi alvo de análise codicológica. (ver aqui).

SABER +  sobre Lorvão e a Regra de S. Bento
(Carvalho, S. / Calhindro, F. - Do Scriptorum Medieval às Comunidades Virtuais: Análise Codicológica da Regra de S. Bento do Mosteiro de Lorvão)

"A Regra de S. Bento foi escrita por S. Bento de Núrsia, na Abadia de Monte Cassino, no século VI, e começou a divulgar-se após a sua destruição em 580 pelos lombardos. A introdução da Regra na Península Ibérica está associada ao Concílio de Coiança de 1050, concretamente com a chegada dos primeiros monges de Cluny (1085-1095). Até esta data os monges ocidentais seguiam um sistema designado de Regula Mixta, não apresentado necessariamente um texto único. (BORGES, 2001, 77).
A primeira menção à observância beneditina, em Portugal, surge no mosteiro de Vilela, em 1086. Só em 1110 encontramos documentação referente à Regra Beneditina em Lorvão, nomeadamente no testamento de Zuleiman Raupariz. (BORGES, 2001, 82)
“A Regra Beneditina, enquanto norma, não pode considerar-se um texto intocável […] A sua validade na vida monástica não está em ser um texto de cariz inspirado ou revelado, mas em ser um texto lido e relido, interpretado e comentado, adaptado e actualizado”(DIAS, 2002, 10) e é neste sentido que devemos divulgá-la.

O espírito da Regra de São Bento funda a vidamonástica em três mandamentos essenciais: obediência,silêncio e humildade, cuja súmula é o tradicional ora etlabora, ainda que numa adaptação tardia.
Devido ao seu carácter pragmático e à sua flexibilidade é considerada a “Regra das Regras” pela Igreja Católica. Os mosteiros beneditinos tornaram-se então autênticos centros culturais e desempenharam um papel decisivo na história da civilização ocidental. A sua importância é
inegável, tanto para o monaquismo, como para as mentalidades de uma forma geral (DIAS, 2002,10).
A Regra suscita algumas querelas entre os estudiosos, uma vez que a sua fidelidade é questionada, por não ter sido encontrado o seu pretenso autógrafo, havendo assim suposições sobre o códice que mais se aproxima do texto original. Hoje pensa-se que Hatton 48 de Oxford será o códice mais antigo, datado dos princípios do século VIII, embora o mais autorizado seja o manuscrito Sangallensis 914 do século IX. (DIAS, 2002, 13)"
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BORGES, Nelson, C. – Arte Monástica em Lorvão: Sombras e Realidade, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2001
DIAS, Geraldo J.A. Coelho – Regra de S. Bento, Norma de Vida Monástica: sua problemática moderna e edições em Português. “Rctissima norma vitae”, RB.73,13. [Em linha]. Revista da Faculdade de Letras HISTÓRIA. Porto: III Série, vol.3, 2002, pp.9-48 [Consult. 8 de Dezembro de 2010] Disponível em www: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2278.pdf

Outros links:

Lorvão, um mosteiro e um lugar

Um mosteiro e um lugar: Lorvão nos finais do séc. XIII


O mosteiro de Lorvão: ainda a saída dos monges e a entrada das freiras

Arte monástica em Lorvão : sombras e realidade : das origens a 1737

Regra de S. Bento
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2278.pdf

VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAP I EXPLUSÃO DOS MONGES DE LORVÃO, ACUSAÇÃO, DEFESA, PRONÚNCIA

24 fevereiro 2017

Foz do Caneiro: há fascínios que se guardam no coração de quem a visita...

Portugal com um território tão pequeno apresenta-nos uma grande variedade de paisagens feita pela justaposição de relevos de vários tipos. Alguns rasgados por rios e planícies aluviais levam-nos a viajar não só pelas suas serras e aldeias como pela sua geomorfologia antiga.
Há fascínios que se guardam no coração de quem visita este tão pequeno território e esta imagem captada na Foz do Caneiro - concelho de Penacova é a prova disso . Uma imagem apetrechada pela própria natureza que não descuidou dos detalhes e que me deixou , desde a minha infância, fascinada.
Um percurso à beira Rio Mondego até Penacova faz daquela região um mosaico natural que levará aos mais atentos a uma comunhão entre a paisagem natural e a ocupação humana.
Os animais como o javali, a raposa, entre muitos outros percorrem as serras e as suas florestas . Todos em comunhão com os seus habitantes e em comunhão com o silêncio que ali se instala de dia e de noite.
A presença das acácias na época primaveril, embora , por vezes, anteceda a sua chegada, faz com que o espaço paisagístico nos preencha de esplendor e nos deixe com vontade de a ficar a admirar até anoitecer.
Sejam bem vindos aos Concelho de Penacova!

Sónia Marques Carvão

Publicada originalmente no Facebook (23/02/2017) 

16 fevereiro 2014

Apresentação do livro "A ferramenta que faz os contos" trouxe a Penacova o debate sobre a Filosofia para Crianças


Ontem, 15 de fevereiro, falou-se de Filosofia em Penacova. Mais, de Filosofia para Crianças. De facto, a apresentação do livro A ferramenta que faz os contos  nada faria pensar que a temática central do evento incidisse neste movimento pedagógico, assim lhe podemos chamar, que teve como percursor MATTHEW LIPMAN ((1922-2010). Sónia Marques Carvão, penacovense com ascendentes na localidade de Chelo,  escolheu Penacova para, depois de o ter feito em Lisboa, divulgar  o seu trabalho.
A sessão decorreu na sala Leitão Couto (Biblioteca Municipal). Presidiu Humberto Oliveira, presidente da Câmara Municipal. A mesa contou, além da autora,  também com a presença de Fernanda Veiga, vereadora da Cultura e de Joaquim Pinto, professor da Universidade Católica.
Formada em Filosofia e Antropologia e com uma especialização em Filosofia para Crianças, Sónia Marques Carvão, pretendeu com a publicação deste livro, não só concretizar um sonho de infância (conforme confidenciou) mas também passar para o papel algo da sua experiência de trabalho com crianças num colégio de Lisboa. A própria sessão de apresentação incluiu a demonstração de uma sessão prática de Filosofia (com) para Crianças, seguindo a metodologia da “comunidade de investigação”. Hoje a “internet” está cheia de documentação sobre esta corrente pedagógica, desenvolvida em todo o mundo, mas com grande aceitação no Brasil e Espanha, a título de exemplo. Em Portugal  existem também muitos projetos isolados, mas é praticamente desconhecida. Daí a importância destas iniciativas editoriais que nunca são de mais para questionar o modo como se educa e o próprio sentido do que é educar.

O professor Joaquim Pinto fez a apresentação do livro. A sua intervenção focou muitos dos problemas daquilo que na sua óptica deve ser o Filosofar e o Filosofar com Crianças, acabando por coincidir com a referência que a autora fez a L. Wittgenstein : a Filosofia é uma Tarefa de Liberdade.
Voltando ao livro em si, refira-se que é composto por sete contos (edição bilingue português-inglês) distribuídos por cerca de noventa páginas. “ Um livro para todos e não só para crianças. Um livro que leva à reflexão de conceitos como o Belo, o Bom, a Ferramenta, o Amor, o Jogo, o Saber e Não Saber, bem como à reflexão de valores éticos, costumes e tradições, brincando” – refere uma pequena nota inserida junto à ficha técnica do mesmo.
Ser pretexto para falar de Filosofia em Penacova (fora das paredes da Escola Secundária) foi, além da importância que o livro tem, o grande mérito desta iniciativa. 




Texto e fotos de Penacova Online / David Almeida