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07 setembro 2022

2º Centenário da Independência do Brasil: a Visita de António José de Almeida àquele "país irmão"

Faz agora 100 anos. Por estes dias, o Presidente de Portugal estava no Brasil. A primeira Visita de Estado, após a independência, coube a António José de Almeida. A ida ao país irmão era desejada havia muito tempo. Estivera para ser D. Carlos, o primeiro a fazê-lo. Só mais tarde, com a comemoração do 1º Centenário da Independência do Brasil, a 7 de Setembro de 1922, data do famoso “grito do Ipiranga”, se deu essa deslocação.

A viagem teve alguns contratempos. Um deles foi o facto de o navio que levou o nosso presidente ter chegado com mais de uma semana de atraso. O convite havia sido feito com muita antecedência, mas os preparativos terão ficado para a última hora.

A primeira viagem de um chefe de Estado ao Brasil fez-se num "recauchutado" navio. Um antiquado paquete alemão, entretanto rebaptizado de “Porto” necessitou de grandes reparações mas mesmo assim as obras atrasaram-se e a partida foi sendo sucessivamente adiada. Pouco tempo depois de sair de Lisboa, teve de aportar às Canárias, devido a uma avaria. Avarias que se multiplicaram em todo o trajecto e a lentidão era tal que se chegou a pensar que havia falsificação do carvão!

No dia previsto para a chegada, 7 de Setembro, ainda a comitiva estava a meio do caminho. Na Rio de Janeiro iniciaram-se as comemorações do 1º Centenário da Independência e inaugurou-se uma exposição internacional (os nossos pavilhões não estavam prontos e tiveram de ser cobertos para não dar mau aspecto...). E mais grave: o único chefe de Estado convidado - António José de Almeida – não estava presente.

Apesar de todas estas contrariedades, António José de Almeida terá reagido com enorme calma e sentido de Estado. A viagem havia sido acompanhada com muita ansiedade dos dois lados do Atlântico e os brasileiros prepararam uma recepção apoteótica. O Presidente Português foi recebido por milhares de pessoas em todos os locais onde se deslocou, muito bem acolhido pelas entidades oficiais e civis. A retribuição revestiu-se de enorme simpatia (uma das características de António José de Almeida) a que se juntaram muitos discursos que arrebataram as plateias, confirmando perante os brasileiros a expectativa criada de grande orador. Muitas cerimónias tiveram lugar onde não faltaram grandiosos banquetes.

A viagem ficou marcada , mais pelos afectos do que pelos ganhos políticos, já que do ponto de vista oficial apenas três tratados de pouca relevância foram assinados.


UM DOS DISCURSOS DE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA NO BRASIL

Provavelmente poucas pessoas conhecerão o discurso no palácio do Catete  por ocasião do Banquete oferecido pelo Presidente do Brasil. Aqui fica, tendo como fonte a Revista da Semana de 1922,  publicada no Brasil.


Senhor Presidente:

A emancipação política da grande pátria que é hoje o Brasil foi um facto espontâneo e normal, consequência de uma evolução inexorável, que nehuma força seria capaz de impedir.

A independência do Brasil não data do grito de Ypiranga, como à primeira vista podia supor-se; ela partiu de
mais longe, porque se vinha formando lentamente na consciência nacional, visto que, de facto, o Brasil apesar de colónia, foi desde cedo nação, tendo mais condições de vida própria do que tantos outros povos que, ao longo da história, com aparência de independentes, mais não foram do que organismos subordinados a outros mais poderosos que os dominaram.

O nervosismo, mais feito afinal de desolação e despeito do que de má vontade, que em Portugal se manifestou logo após o acto definitivo da Independência, deasapareceu sem demora, porque aqueles que lá lutavam contra uma forma de governo retrógrada e reacionária compreenderam que, se para eles a fórmula da própria independência individual e colectiva era a revolução liberal, aqui, no Brasil, a revolta contra a mesma opressão só podia revestir um aspecto: o da independência.

Como V. Ex. acaba de dizer com firme exactidão e escrupulosa verdade, Portugal descobriu, povoou e defendeu contra a cobiça dos estrangeiros o vasto território do Brasil. O Brasil independente de hoje tem pois que agradecer a Portugal o facto de ele lhe ter legado, intacto, à custa de torrentes de sangue e torrentes de lágrimas, tamanho e tão rico património. Mas Portugal tem que agradecer ao Brasil independente de hoje a energia, a bravura, a inteligência e o amor da raça com que ele tem sustentado,
aumentando-a, desenvolvendo-a e dourando-a de uma maior magestade e beleza, a obra que foi a maior glória do seu grande passado.

Creio que estamos pagos perante a história.

Nenhum povo deve menosprezar as honradas origens que teve, e nenhum povo tem o direito de olhar, com ressentimento ou tristeza sequer, a separação do seu todo daquela parte que, no exacto cumprimento dos destinos históricos, uma vez sentiu em si a acção das forças indomáveis que a levaram ao legítimo afastamento.

É esse o motivo que determinou V. Ex. a render, neste momento, um sentido culto a Portugal. É essa a razão que me impele, a mim, a prestar profunda e comovida homenagem ao Brasil. V. Ex. o disse: o Sete de Setembro é uma data luso-brasileira, e celebrá-lo é realizar uma festa da raça. Em verdade, nesta data há glória que chegue para todos. Somente eu, senhor Presidente, doutor Epitácio Pessoa, devo declarar francamente que não vim aqui com mandato da minha Pátria para tomar a porção de glória que lhe pertence. Eu vim aqui no exclusivo intuito de reconhecer aquela outra, e bem grande ela é, que cabe em partilha ao Brasil.

É nesta missão de que venho investido e que teve ontem tão auspicioso início na maneira inexcedível de entusiasmo e carinho com que V. Ex., o seu governo, as autoridades civis e militares e o povo quiseram receber-me, ao entrar nesta formosa cidade, estou reconhecendo, por mim próprio, o que já sabia por depoimentos alheios, isto é que o Brasil tem sabido criar uma civilização própria que é, em parte, feita da velha tradição portuguesa, em parte devida ao forte e sadio ambiente americano, mas sobretudo é o resultado do esforço intrépido e inteligente dos homens resolutos que o povoam e na verdade se formaram um estado de alma, colectivo, poderoso e resplandecente, a que com justeza se deve chamar brasilidade - força nova, serena e ousada que está intervindo eficazmente nos destinos do mundo.

Brasil e Portugal são duas pátrias irmãs, cada uma vivendo em sua casa, tendo um passado até há cem anos comum e um futuro em muitos pontos diverso, mas em tantos outros equivalente.

Os brasileiros sentem-se em Portugal como na sua Pátria.

Os portugueses, em vastos núcleos de trabalhadores, sentem-se no Brasil como na sua própria terra. As mesmas constituições republicanas, embora sob aspecto diferente, governam e dirigem as duas nações que tem dado provas, ambas elas de amar sinceramente a democracia.

Uma língua incomparável, que retine o melhor ouro da linguagem humana e dispõe de um poder plástico sem igual, serve - maravilhoso instrumento de civilização e solidariedade - os dois povos, que se sentem presos nas espiras desse verbo quasi divino.

Que outra coisa é precisa para que eles auxiliem sempre e se entendam cada vez mais. Creio que coisa nenhuma, já que o sentimento fraterno que enleia os corações, perenemente alvoroçados pela estima comum, é tão forte que em caso nenhum a vontade dos homens o pode quebra. E o nosso encontro aqui, senhor Presidente, é um eloquente testemunho dessa esplêndida realidade.

Senhor Presidente, em nome da nação portuguesa e no meu próprio nome, agradeço a V. Ex. e ao Brasil a entusiástica e comovida recepção que me fizeram e de que guardarei perdurável recordação, e erguendo a minha taça em honra de V. Ex. e do grande povo de que é chefe eminente, faço votos sinceros pelas suas mútuas felicidades."

03 setembro 2012

Cartas Brasileiras I

Por ter parentes de minha mulher oriundos de Penacova, atrevido, me ofereci ao amigo David Almeida como colaborador do Penacovaonline, para enviar textos desde esse longínquo  Brasil.
 
Creio que o gentil gestor do blog não encontrou meios para me dizer não; assim é que aqui estou.
 
É verdade, depois de uma longa data, desde a oferta. Aconteceu que me pus a pensar como escrever dirigindo-me, principalmente, para leitores de Portugal, sabendo da existência de particularidades interessantes existentes na língua comum a todos nós.
 
Realmente, ou seja “de fato”, porque aqui não se escreve de “facto”, o texto poderia acabar por se tornar ininteligível, quando se sabe que “fato” nas terras lusitanas se refere à roupa masculina, para nós “terno” (camisa, calça  e colete).
 
As pessoas aqui, em sua grande maioria, vão trabalhar tomando “ônibus”, enquanto ai utilizam o “autocarro”, embora sejam a mesma coisa. Viajamos de “trem” e não de “combóio”; se bem que aqui trem também pode significar alguma coisa extravagante.  
 
Podemos nos referir a um grupo expectadores somo sendo uma “galera”, isto é, uma turma, nunca como uma embarcação. As torcidas, suas ditas claques, aqui  compram camisas de seus times (clubes) de futebol, jamais “camisolas”, por serem vestimentas que as mulheres usam para dormir.
 
Em uma fonte de água pode existir uma “bica”, um tubo por onde escorre o líquido, que colhido pode ser utilizado para fazer um “cafezinho”, para vocês, “bica”. Com a laranja fazemos “suco”, que ai se chama “sumo”; o Papa  é para nós o Sumo Pontífice.
 
Mulher que muito fala é tagarela ou faladeira, chamá-la de “galinha” é dizer que se deita com todo mundo!!! E se for feia ela é um tribufu.
 
Até outro dia, um abraço a todos.
P.T.Juvenal Santos – São Paulo - Brasil
 
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NR: Obrigado por este intercâmbio que muito nos honra e que esperamos continue com regularidade.

29 novembro 2010

Crónicas do Brasil (II)

E o Rio de Janeiro continua...
                                             
A imprensa internacional destaca guerra do Rio contra o crime organizado; O jornal americano The New York Times ressaltou que o Rio será palco de eventos importantes, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2010; já o parisiense Le Figaro destacou o número de mortos; o equatoriano El Commercio trouxe o assunto como o mais importante de sua seção internacional; o jornal português Publico traz o assunto em sua capa na versão internet e também na versão impressa. E assim mais uma vez o Brasil é noticiado.
As ações dos criminosos no Rio de Janeiro atentam contra o estado democrático de direito. Mas, para que o estado democrático de direito não enfraqueça, tais ações criminosas precisam ser combatidas dentro dos marcos legais, sem execuções sumárias, sem torturas e sem vinganças
A cidade mais bela do Brasil é palco de uma guerra social, que surge como resultado de anos e anos de um Estado promíscuo, que mantinha um “certo relacionamento respeitoso” com os bandidos. E por essa – vamos dizer – “amizade”, foi feita vista grossa ao avanço maciço da criminalidade, com tráfico de drogas e crime organizado, bandidos fortemente armados, se tornando os “xerifes” dos morros, mandando e desmandando no Rio de Janeiro.
O ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi, afirmou que as ações dos criminosos, incendiando ônibus e metralhando cabines de política, são um atentado ao estado de direito. Ele acha fundamental que haja solidariedade da sociedade no enfrentamento do crime organizado.
“É fundamental que a força policial seja mobilizada para enfrentar, combater e neutralizaras as ações desses criminosos, mas sempre dentro dos marcos legais, que não permitem execuções sumárias, tortura e nem vingança. É prender e levar”, disse.
 “Agora, no contexto de uma batalha deste tipo, é muito difícil encontrar ouvidos sensíveis, porque se trata de uma situação de que quem está defendendo a lei está sendo alvo de tiros de bandidos. E na hora em que há um ataque dessa proporção, a polícia tem que reagir sem, no entanto, deixar de se ver como defensora dos direitos humanos. Porque ela defende a vida, o direito das pessoas não serem sequestradas, assaltadas e mortas", completou o ministro.
Divididos em três grupos, Comando Vermelho, Comando Geral e Amigos dos Amigos, os marginais colocaram a sociedade carioca como refém, impondo toques de recolher á escolas e ao comércio local, tomaram conta de tudo, sem receio, originando assim um governo paralelo ao estado democrático.
Mas o cenário começou a mudar com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (as UPPs) que ofereceram resultados visíveis e extraordinários, com apoio irrestrito da população.
O carioca se sentiu protegido, cidadão. Comunidades que eram apartadas dos serviços básicos essenciais, hoje possuem uma realidade diferente. O banimento da violência nos morros propiciou a liberdade do ir e vir desses cidadãos.
Essa mudança não seria tranqüila, com o encurralamento das quadrilhas, elas certamente revidariam e revidaram. Veio numa onda terrorista e de vandalismo, com arrastões, assaltos e incêndio de veículos, que visavam fundamentalmente espalhar o medo e intimidar as autoridades. O império do tráfico, que por anos entendeu que estava tudo dominado, quis tomar de volta o que perdeu. Mas a resposta da sociedade – por mais dolorosa e arriscada que possa parecer nesse momento – deve ser a da resistência.  A hora é agora! O controle territorial do Rio não pode seguir nas mãos de marginais como ocorreu no passado recente. A falsa ideia de que a via do entendimento com esses bandidos é uma alternativa possível não deve prevalecer. A polícia fluminense precisa seguir avançando, sem fraquejar, no encalço daqueles que se imaginavam imunes à lei, expulsando-os do convívio social.
E temos que ressaltar... O Rio de Janeiro continua lindo, O Rio de Janeiro continua sendo, o Rio de Janeiro, Fevereiro e Março. Alô, alô, Realengo aquele abraço! Alô torcida do Flamengo aquele abraço... (Aquele Abraço – Gilberto Gil)
Bia Montes, jornalista

17 novembro 2010

Do Brasil para o Penacova Online: Novos Caminhos Políticos-uma análise pós-eleitoral


Bia Montes
Antes de iniciar falando sobre o novo cenário político do Brasil, irei apresentar-me aos ilustres leitores do Penacova Online, meu nome é Beatriz Montes, mas podem me chamar de Bia Montes. Sou jornalista e também possuo um blog e foi por meio dele que acabei conhecendo o David.  E aceitei o seu convite para escrever algumas coisas sobre as terras de cá. Espero que gostem.

Novos Caminhos Políticos

 O Brasil viveu no último mês de outubro e ainda vive uma séria mudança em seu cenário político, temos uma nova presidente da República, a primeira presidente mulher da história do Brasil, uma ex-rebelde marxista, que no período da Ditadura Militar (Décadas 1960 e 1970) foi presa e torturada.    
Imagem da responsabilidade
do Penacova Online
Em seu discurso da vitória foi surpreendente, manteve-se inexpressiva, sem muita demonstração de emoções, contendo lagrimas e ate mesmo a explosão de felicidade por ter conseguido se eleger como a primeira presidente do Brasil. Em seu discurso muito falou, mas, pouco foi dito. Usou palavras sóbrias, sem vestígios do sentimento de perseguição que aflorou durante a campanha eleitoral, em momento algum culpou as elites brasileiras da luta imaginária travadas em trincheiras existentes somente no imaginário do seu antecessor, o presidente Lula.
Vale ressaltar que durante seu discurso, utilizou uma fala de quem realmente quer trabalhar e não apenas para impressionar, mesmo assim, ainda deixou ressaltar o seu desnorteamento, deixando algumas dúvidas no ar, pois, seu discurso e suas atitudes não podem mais ser aquelas que os marqueteiros da campanha embelezam e jogam no ar.

Seu governo terá início em 1º de janeiro de 2011, e a presidente ainda não sabe, evidentemente, como vai domar a gastança pública. Ainda mais tendo de saciar o PT e o PMDB, as maiores bocas do fisiologismo nacional. Dilma fez o movimento certo, corajoso, ao incluir o controle fiscal em sua primeiríssima fala. Falta agora conversar com alguém que entenda do assunto, pois, a conta precisa fechar.

Em matéria de economia, falta entender, também, que os remendos populistas um dia estouram – como se vê na Venezuela chavista e na Argentina dos Kirchners.  E assim chegamos ao ponto onde uma parcela pensante da sociedade brasileira teme a imprensa. Ela convive com medo de ser amordaçada, principal medida dos dois vizinhos contra a derrocada econômica. É por isso que chega a causar arrepios o anúncio, pela presidente eleita, de um Fundo Social do Pré-Sal.

A criação de uma assinatura politicamente correta para lavar a gastança do governo é antiga, e pode ate se mostrar uma saída esperta, mas o tombo no final é grande. Se a economia pega um vento de través – o que Lula não soube o que é –, não há populismo que segure os navegantes. Talvez Dilma só compreenda essa equação no dia em que tiver de cortar Bolsa Família. Espera-se que a ficha caia antes.
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Obrigado Bia pela análise tão  pertinente sobre o  período pós-eleitoral no Brasil, país onde vivem tantos portugueses e luso-descendentes, muitos deles pertencentes ao concelho de Penacova.
Ficamos a aguardar mais textos seus, sempre que possa e ache oportuno.