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15 junho 2017

Os monges negros de Lorvão: sombras e realidade

Que me desculpe o Professor Nelson Correia Borges por usar parte do título da sua obra magistral (tese de doutoramento)  "Arte Monástica em Lorvão: Sombras e Realidade".
Em 27 de Maio publicámos na página do Facebook associada a este blogue um pequeno apontamento sobre uma iluminura alusiva à criação de Eva, proveniente do  scriptorium laurbanense . Foi numa tese de Regina Neto que encontrámos, não só essa referência, como também inúmeras páginas dedicadas aos monges de Lorvão. Sobre Lorvão muito se publicou já. Vai agora ser lançado um livro cuja acção tem lugar "No Mosteiro do Vale do Silêncio". Segundo a autora, Sónia Marques Carvão, trata-se de um "romance sobre os beneditinos, ficcionado, mas baseado numa investigação e leitura da Regra de S. Bento entre outras obras e em alguns factos históricos."
A dissertação de mestrado, acima referida (leia AQUI) que nos chega da Universidade de S. Paulo apresenta-nos alguns dados que complementam os estudos feitos em Portugal e nos podem ajudar também, neste momento, a compreender as questões históricas para as quais o livro (que será apresentado no próximo sábado em Lorvão)  nos vai remeter.
Escreve Regina Neto que "Lorvão foi um mosteiro considerado rico para a época, em especial para o século XII". Os seus ocupantes terão sido, assim, "expoentes dos maiores protagonistas da região de Coimbra na tarefa de valorização económica do território e na reorganização da diocese". ricos monges possuíam uma longa tradição de autonomia" e acrescenta que "a documentação do fim do séc XI evidencia a aceitação de monges de todas as origens sociais e a existência de comunidades numerosas".  A revista Munda, publicou em 1987 um artigo que suscitou algumas dúvidas sobre a questão da regra seguida: cf. Schedel, T. "A saída dos monges negros do Mosteiro de Lorvão". Este artigo, é mencionado por Regina Neto, recordando que "a bibliografia mais recente aponta dúvidas quanto à observância da ordem beneditina no mosteiro até ao século XII sem, no entanto, fornecer maiores detalhes".  Por isso, escreve que "tendo provavelmente  adoptado a Regra de S. Bento em 1085 o rico mosteiro foi doado à Sé de Coimbra, em 1109." A passagem suscitou protestos dos monges que apenas recuperaram a independência em 1116. Começava assim uma certa "guerrilha" que culminou com a sua "expulsão" quando "foram envolvidos, no início do séc XIII, numa séria contenda com a coroa e com o bispo de Coimbra que os acusou de descalabros materiais e espirituais".



Existe um manuscrito da Regra de S. Bento, pertencente ao Mosteiro de Lorvão, datado de 1546, que ainda recentemente foi alvo de análise codicológica. (ver aqui).

SABER +  sobre Lorvão e a Regra de S. Bento
(Carvalho, S. / Calhindro, F. - Do Scriptorum Medieval às Comunidades Virtuais: Análise Codicológica da Regra de S. Bento do Mosteiro de Lorvão)

"A Regra de S. Bento foi escrita por S. Bento de Núrsia, na Abadia de Monte Cassino, no século VI, e começou a divulgar-se após a sua destruição em 580 pelos lombardos. A introdução da Regra na Península Ibérica está associada ao Concílio de Coiança de 1050, concretamente com a chegada dos primeiros monges de Cluny (1085-1095). Até esta data os monges ocidentais seguiam um sistema designado de Regula Mixta, não apresentado necessariamente um texto único. (BORGES, 2001, 77).
A primeira menção à observância beneditina, em Portugal, surge no mosteiro de Vilela, em 1086. Só em 1110 encontramos documentação referente à Regra Beneditina em Lorvão, nomeadamente no testamento de Zuleiman Raupariz. (BORGES, 2001, 82)
“A Regra Beneditina, enquanto norma, não pode considerar-se um texto intocável […] A sua validade na vida monástica não está em ser um texto de cariz inspirado ou revelado, mas em ser um texto lido e relido, interpretado e comentado, adaptado e actualizado”(DIAS, 2002, 10) e é neste sentido que devemos divulgá-la.

O espírito da Regra de São Bento funda a vidamonástica em três mandamentos essenciais: obediência,silêncio e humildade, cuja súmula é o tradicional ora etlabora, ainda que numa adaptação tardia.
Devido ao seu carácter pragmático e à sua flexibilidade é considerada a “Regra das Regras” pela Igreja Católica. Os mosteiros beneditinos tornaram-se então autênticos centros culturais e desempenharam um papel decisivo na história da civilização ocidental. A sua importância é
inegável, tanto para o monaquismo, como para as mentalidades de uma forma geral (DIAS, 2002,10).
A Regra suscita algumas querelas entre os estudiosos, uma vez que a sua fidelidade é questionada, por não ter sido encontrado o seu pretenso autógrafo, havendo assim suposições sobre o códice que mais se aproxima do texto original. Hoje pensa-se que Hatton 48 de Oxford será o códice mais antigo, datado dos princípios do século VIII, embora o mais autorizado seja o manuscrito Sangallensis 914 do século IX. (DIAS, 2002, 13)"
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BORGES, Nelson, C. – Arte Monástica em Lorvão: Sombras e Realidade, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2001
DIAS, Geraldo J.A. Coelho – Regra de S. Bento, Norma de Vida Monástica: sua problemática moderna e edições em Português. “Rctissima norma vitae”, RB.73,13. [Em linha]. Revista da Faculdade de Letras HISTÓRIA. Porto: III Série, vol.3, 2002, pp.9-48 [Consult. 8 de Dezembro de 2010] Disponível em www: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2278.pdf

Outros links:

Lorvão, um mosteiro e um lugar

Um mosteiro e um lugar: Lorvão nos finais do séc. XIII


O mosteiro de Lorvão: ainda a saída dos monges e a entrada das freiras

Arte monástica em Lorvão : sombras e realidade : das origens a 1737

Regra de S. Bento
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2278.pdf

VIDA QUOTIDIANA DAS MONJAS NO MOSTEIRO MEDIEVAL - CAP I EXPLUSÃO DOS MONGES DE LORVÃO, ACUSAÇÃO, DEFESA, PRONÚNCIA