Mostrar mensagens com a etiqueta 5 de Outubro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 5 de Outubro. Mostrar todas as mensagens

05 outubro 2023

Outubro de 1910: em toda a vila foi suspenso o trabalho, "pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento"


O modo como Penacova recebeu a notícia da Revolução Republicana do 5 de Outubro de 1910 e reagiu nos dias subsequentes à mudança de regime e às profundas alterações que se verificaram na vida social e política ficou registado sobretudo nas páginas do Jornal de Penacova.

Durante muitos anos apenas as notícias publicadas neste periódico (edição de 8 de Outubro de 1910) eram do conhecimento de alguns penacovenses. No entanto, a imprensa local de feição republicana foi, nomeadamente durante as duas décadas que se seguiram, fazendo eco das inevitáveis repercussões nos órgãos autárquicos e na vida política em geral.

Outros periódicos locais (por exemplo Ecos de S. Pedro de Alva e A Voz de S. Pedro de Alva) nos fornecem um vasto conjunto de informações que nos permitem compreender melhor as dinâmicas duma época que tem como marca fundamental a mudança de regime político. Dados que podemos complementar com a análise das actas das sessões dos órgãos municipais e de outros documentos dispersos de carácter jurídico-administrativo.

Em Penacova, não foi propriamente no dia 5 de Outubro, ou melhor, do dia 6, quando a esta vila chegou a notícia, que o republicanismo se começou a afirmar. Também aqui, o ideário republicano vinha germinando há alguns anos. Ainda na vigência da Monarquia, em 1908, constitui-se a primeira Comissão Municipal Republicana e no dia 1 de Agosto de 1909 teve lugar um grandioso comício de em S. Pedro de Alva com milhares de participantes. Com a implantação da República as adesões ao Partido Republicano cresceram significativamente, fruto da militância dos núcleos de Penacova e de S. Pedro de Alva a que não era alheia a influência, por vezes discreta, de António José de Almeida que tinha no concelho um grupo de amigos e simpatizantes e uma tribuna privilegiada de propaganda e de mobilização: o Jornal de Penacova.

Logo após a implantação da República e durante os meses seguintes os militantes republicanos do concelho organizaram palestras em muitas aldeias, promoveram a constituição de comissões republicanas a nível de freguesia e dinamizaram e consolidaram os Centros Republicanos de Penacova e S. Pedro de Alva que já vinham do tempo da monarquia.

Vejamos alguns pormenores da notícia publicada por este jornal, dirigido por Amândio dos Santos Cabral:

''Viva a República Portuguesa! Está proclamada a República em Portugal - Novo Governo - o País adere com entusiasmo à República''
– foi com este título, a toda a largura da primeira página que o Jornal de Penacova de 8 de Outubro noticiou a revolução republicana.

Depois de relatar os acontecimentos em Lisboa, o jornal faz referência ao modo como a vila vivenciou este momento histórico:

“A notícia da Implantação da República em Portugal foi trazida a esta vila pelo nosso correligionário Joaquim Serra Cardoso, na quinta-feira, pelas 8 e meia horas da manhã. O nosso amigo tinha ido na véspera para Coimbra, e assim teve a honra de trazer em primeira mão a grata notícia. Logo ao chegar ao Ramal de Santo António, o nosso amigo soltou um estridente Viva a República que foi ouvido na vila o que fez com que o nosso director corresse ao seu encontro, dirigindo-se logo ao Largo Alberto Leitão, onde imediatamente se juntavam muitos cidadãos aclamando a República.”

E prossegue o relato:

“Pouco depois, uma comissão Republicana composta dos nossos correligionários dr. Rodolfo Pedro da Silva, dr. António Moncada, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra e o nosso director percorreu a vila convidando os cidadãos para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho, ao meio dia. “

A notícia fora anunciada por uma salva de 31 morteiros e grande número de foguetes. Imediatamente, ''foi suspenso o trabalho em toda a vila, pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento.''

Conta-se, de seguida, o episódio da subida ao telhado da Câmara:

“Como as repartições da Câmara Municipal estivessem fechadas, o nosso director [Amândio dos Santos Cabral] subiu por uma escada ao telhado do edifício dos Paços do Concelho e ali, no meio de aclamações entusiásticas do povo, que se achava no largo, hasteou a bandeira vermelha e verde, augusto símbolo da pátria redimida, a qual foi saudada com entusiásticos vivas e por nova salva de 31 morteiros e inúmeros foguetes. Não pôde nesta ocasião lavrar-se auto de Aclamação, porque como atrás dizemos as repartições da Câmara estavam fechadas, não podendo assim, sem violência, haver-se o livro das actas das sessões. Ao meio dia da tarde apareceu nesta vila o nosso correligionário sr. Leonel Serra, a cavalo, e empunhando uma bandeira branca onde se lia – PAZ – acompanhado de muitos populares, que saudavam a República.”

Como sabemos, o auto não pôde ser lavrado no dia seis. Só no dia seguinte tal foi possível:

“Ontem, cerca das duas horas da tarde, na sala das sessões da Câmara, no meio do maior entusiasmo, foi lavrado o auto que noutro lugar publicamos, da aclamação da República, sendo logo assinado por todos os cidadãos presentes, levantando-se muitos vivas à República, à Pátria portuguesa, etc.”

De acordo com os relatos do jornal, apareceu pouco depois, no largo Alberto Leitão um ''numeroso grupo de correligionários da freguesia de S. Pedro de Alva que foi recebido no meio do maior entusiasmo, indo logo todos assinar o auto.

Em seguida, ''todos os cidadãos que estavam no Largo Alberto Leitão se dirigiram para a nossa redacção – conclui o Jornal de Penacova – fazendo-nos uma calorosa e penhorante manifestação, sendo-lhes aqui oferecida uma taça de champanhe, trocando-se numerosos brindes, sempre no meio do maior entusiasmo.''

O Jornal de Penacova esteve, assim, totalmente empenhado na dinâmica que naqueles dias se viveu. Em jeito de balanço e de apelo, escreve este semanário: ''Como os nossos leitores poderão verificar lendo os nomes que firmaram o auto de aclamação da República foram numerosas as adesões ao novo regime, e esperamos que aqueles que ainda não aderiram o façam brevemente, com o que rejubilaremos.''

Este jornal transcreve na íntegra o texto exarado no livro de Actas das Sessões da Câmara:

“Auto de aclamação da República Portuguesa no concelho de Penacova

Aos seis dias do mês de Outubro do ano de 1910 pelas 12 horas do dia, nesta vila de Penacova e no Largo Alberto Leitão, fronteiro aos Paços do Concelho, foi entusiasticamente aclamada a República Portuguesa, proclamada em Lisboa no dia cinco do corrente, e hasteada a bandeira republicana no edifício acima referido. E não podendo este auto ser lavrado logo após a aclamação, em virtude de estarem ausentes as autoridades administrativas deste concelho e fechadas as portas da câmara municipal sendo impossível, por isso, sem violência haver-se o competente livro das actas das sessões da mesma câmara, se lavra hoje, 7 do corrente, o presente Auto de Aclamação da República Portuguesa, que vai ser assinado pela Comissão Republicana Local, pelas pessoas que tomaram parte naquela manifestação e ainda pelas demais presentes a este acto que espontaneamente o queiram fazer. Depois de lido por mim, Alípio de Sousa Correia Leitão, secretário da Câmara que o escrevi.”

O documento é assinado por cerca de sessenta pessoas. A ordem aqui apresentada não corresponde à que se observa no original.

Por ordem alfabética teríamos: Abílio Augusto Fernandes, Alberto Cabral de Nascimento Palma, Alípio Serra Cardoso, Amândio dos Santos Cabral, Américo Pinto Guedes, Aníbal Duarte de Vasconcelos, António Carlos Pereira Montenegro, António Casimiro Guedes Pessoa, António Correia da Silva, António Gomes Freire de Almeida e Silva, António Henriques Fonseca Júnior, António Joaquim Dias, António Lopes da Costa Carvalho, António Seiça Ferrer de Saldanha Moncada, Armando Alberto Pimentel, Athalyba Duarte Sousa, Augusto Ribeiro de Almeida, Carlos Mendes, Constantino António Carvalho, Daniel da Silva, Eduardo Pedro da Silva, Eduardo Silva, Fernando Miguel, Francisco Augusto Guedes, Francisco de Almeida Ventura, Francisco da Costa Gonçalves, Francisco Sousa Júnior, Heitor Ribeiro de Almeida, Henrique de Assumpção, Henrique Freire Garcez, Henrique Silva, João Augusto Simões Barreto, João Casimiro Guedes Pessoa, Joaquim Augusto de Carvalho, Joaquim Cabral Júnior, Joaquim Madeira Marques, Joaquim Pereira Castanheira, Joaquim Pita d’Eça Aguiar, Joaquim Serra Cardoso, José Alves de Oliveira Coimbra, José António de Almeida Júnior4, José Augusto Monteiro Júnior, José Augusto Ribeiro, José de Almeida Coimbra, José de Matos Vieira, José dos Santos Silva, José Maria Marques, José Maria Pereira Pimentel, José Pedro Henriques, José Ventura de Almeida, Leonel Lopes Serra, Luís Pereira de Paiva Pita, Manuel Maria Ralha, Manuel Correia da Silva, Manuel Maria Ferreira, Manuel Silva, Rodolfo Pedro da Silva, Roldolfo Silva, Silvério de Amaral Guedes e Urbano Ferreira da Natividade.

No dia 10 de Outubro a Câmara (presidida por Joaquim António da Silva Tenreiro) apresentou a demissão e declarou formalmente a adesão à República. Dois dias depois, tomou posse uma primeira Comissão Administrativa, encabeçada por Amândio dos Santos Cabral. O seu mandato teve curta duração porque, por imperativo legal, foi nomeada uma nova Comissão que tomou posse no dia 24 de Outubro, tendo como presidente António de Seiça Ferrer de Saldanha Moncada.

Recorde-se que até 1913 a governação municipal foi sendo legitimada por nomeação do Governo Civil. Só naquele ano se realizaram eleições para as Câmaras Municipais. Passou a existir um Senado Municipal e uma Comissão Executiva, mantendo-se a figura do Administrador Concelhio.

Fonte  / clique neste link  BNP 


05 outubro 2018

Casa onde nasceu António José de Almeida vai dar lugar a Museu da República

A Câmara Municipal de Penacova assinou hoje um Protocolo de Colaboração com o Centro de Estudos Disciplinares Século XX (CEIS 20). A relação com o CEIS20 vem de 2004, com o lançamento da biografia “António José de Almeida e a República”, passando também pelas comemorações do Centenário da Implantação da República (2010) e mais recentemente, pelo programa do Centenário da Pérgula Raúl Lino (2018).
Em 2019 Penacova vai assinalar o centenário
da eleição de António José de Almeida
 para Presidente da República
A parceria hoje formalizada visa dois objetivos: a celebração do centenário da eleição de António José de Almeida para Presidente da República e a elaboração de um projeto de reabilitação urbanística da casa onde em 1866 nasceu aquele estadista e respetiva musealização, no sentido de aí, em Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, ser criado o “Museu da República António José de Almeida”. 

Assim, o protocolo prevê a realização de uma série de conferências ou mesmo de um colóquio em Penacova, organizado pelo CEIS 20 e ainda, um conjunto de sessões de formação para professores e alunos do Agrupamento de Escolas, versando a figura de António José de Almeida e o tema da República. Àquele Centro de Estudos caberá também a apresentação do projeto para o referido Museu. 
Assinatura do Protocolo entre o Município e o CEIS 20
Usando da palavra, o Coordenador do CEIS 20, António Rochette, destacou a importância deste protocolo, não só porque o Centro defende que a Ciência deve ser com e para o cidadão, mas também porque tem a ver com o conceito de res publica e se relaciona com a Escola, com a formação das novas gerações. A criação de uma Casa-Museu da República representa um desafio: a transformação de uma simples casa em museu, num espaço de mais-valia cultural que se venha a enquadrar numa rede de casas museu que existem ou possam existir nestes territórios de baixa densidade. Apesar de só agora se formalizar o protocolo, os estudos para o projeto de arquitetura e musealização já estão a decorrer, revelou. 

António Rochette, depois de considerar António José de Almeida como “uma personagem fundamental” da nossa história de “finais do século XIX e inícios do século XX”, disse que o CEIS 20 se sente “extremamente sensibilizado e honrado com este protocolo”, acrescentando, no entanto, que estas estas palavras só se justificam se de hoje a um ano sensivelmente, puder estar na inauguração daquele Museu. 

Por sua vez, o Presidente do Município, Humberto Oliveira, salientou a importância de “valorizar as nossas figuras, a nossa história e dignificar, o máximo possível, o centenário da eleição de António José de Almeida, como Presidente da República”. Considerou que se trata de uma tarefa que o município, por si só, não conseguirá realizar cabalmente, apelando por isso, ao contributo de outros parceiros, sejam pessoas individuais, sejam instituições. Daí considerar que o “CEIS 20 é o parceiro certo”. 

Recordando que no dia 5 de Outubro de 2014 fora assinada a escritura de aquisição da Casa de Vale da Vinha, disse que “agora é preciso, literalmente, por mãos à obra”. Humberto Oliveira destacou o facto de se tratar de um “projecto fundamental para a coesão territorial do município”, acrescentando economia, conhecimento e atractividade ao território. Tendo em conta a estratégia de valorização de espaços, depois do Museu do Mosteiro de Lorvão e da Casa das Artes no antigo edifício do tribunal em Penacova, a Casa-Museu, na freguesia de S. Pedro de Alva, pode ser considerada a “terceira perna desta trempe”. 

A sessão comemorativa do 5 de Outubro, foi antecedida do hastear da bandeira ao som do Hino Nacional e a tradicional deposição de coroa de flores no busto de António José de Almeida, tendo terminado com um apontamento musical apresentado pela Escola de Artes de Penacova.

Apontamento musical da Escola de Artes de Penacova 

05 outubro 2016

O 5 de Outubro de 1976 em Penacova: sons, imagens e textos que quatro décadas não apagaram

OUÇA EM 
https://www.youtube.com/watch?v=mt-lf3UKW60

Celebravam-se então 66 anos da Implantação da República. No dia 5 de Outubro de 1976 Penacova prestava homenagem a António José de Almeida inaugurando no centro da vila um busto daquele estadista natural de Penacova.
 
Logo pela manhã, uma salva de 21 morteiros anunciou “o dia festivo que se ia viver” - escreveu o Notícias de Penacova. Às nove e meia teve lugar uma romagem ao Cemitério da Eirinha, em homenagem aos republicanos cujos restos mortais ali repousam. Pelas 12 horas, nos Paços do Concelho, foi içada a bandeira nacional com guarda de honra dos Bombeiros Voluntários. O Gestor Municipal, José Alberto Rodrigues Costa, numa breve alocução, sublinhou o significado do 5 de Outubro e recordou o modo como foi aclamada a República em Penacova. A parte da tarde viria a ser preenchida com o principal ponto do programa: a homenagem a António José de Almeida.


Edição de 9 de Outubro de 1976
do Notícias de Penacova

A vila estava em festa. Música executada pelas Filarmónicas do concelho: dos Bombeiros, Boa Vontade Lorvanense e Casa do Povo de São Pedro de Alva. Estralejar de foguetes no ar. Satisfação “resplandecendo nos rostos do povo (...) porque desde há muito tempo que este dia não era festejado com alegria, já que, durante quase meio século, o 5 de Outubro marcava uma data de oposição a um governo rejeitado pela maioria, oposição essa que veio a ter o seu terminus na madrugada de 25 de Abril de 1974” - escreveu aquele periódico local, rematando - “agora sim, agora o 5 de Outubro é dia festivo para o Povo que quer ser Livre.”
 
Pelas 16 horas procedeu-se ao descerramento do Busto (da autoria do escultor José Maria Cabral Antunes) que se encontrava coberto com a ”genuína” bandeira verde-rubra que foi içada na Rotunda no dia da Revolução vitoriosa.
 
O Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale (que havia tomado posse na véspera) abriu a sessão, fazendo um breve referência à figura de António José de Almeida e ao alto significado daquele acto.

Seguiu-se Romero de Magalhães, Secretário de Estado da Orientação Pedagógica, em representação do Governo. Em breves, "mas vigorosas palavras", não só se referiu à justíssima homenagem como ainda à figura de António José de Almeida, terminando por lembrar o verdadeiro significado do que é a Liberdade e a República.


Romero de Magalhães no uso da palavra,
vendo-se também na foto Fernando Vale


Intervenção de José Alberto Costa, Gestor Municipal
(Arquivo pessoal de J.A.Costa)

Usou depois da palavra o Gestor municipal, José Alberto Costa, que “em seu nome pessoal e do povo do concelho deu as boas vindas a todos quantos quiseram honrar com a sua presença tão solene homenagem”. Seguiu-se a intervenção de Eduardo Ralha. Diz o Notícias de Penacova, cujas páginas temos vindo a seguir de perto – “Este orador, com aquela clarividência que lhe é peculiar, vivendo intensamente o momento nacional que foi o 5 de Outubro de 1910” fez uma explanação longa sobre o assunto e destacou o facto da personalidade de António José de Almeida “não ser apenas motivo de honra e legítimo orgulho para o concelho, mas também porque se trata mesmo de uma gloria nacional.” Terminou dizendo: “Quando assim se der sentido à trilogia: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, seremos dignos continuadores da geração de António José de Almeida e estaremos então a prestar-lhe a mais significativa das homenagens”.



Seguiu-se a intervenção do genro do homenageado, Júlio Abreu, que em representação dos familiares agradeceu “comovidamente” a homenagem que se estava a prestar e fez uma “breve resenha do que foi a vida e obra António José de Almeida, essa figura nacional que desde os seus tempos de estudante se deu de alma e coração à causa republicana, à democracia e à elevação do bom nome da Pátria Portuguesa.” Estava também presente a filha do homenageado, Maria Teresa de Almeida Queiroga de Abreu.
 
A finalizar, o Chefe da Secretaria da Câmara procedeu à leitura do Auto, lavrado em livro especial e que, no final, foi assinado pelas entidades presentes e pelo povo que o quis fazer. Foram ainda lidas algumas mensagens de "familiares ausentes e de um republicano", após o que foi guardado um minuto de silêncio por todos quantos lutaram para que a República Portuguesa fosse uma realidade viva.



“Estava assim terminada uma das mais brilhantes cerimónias realizadas no concelho” – conclui o jornal – “que desta forma prestou homenagem a um dos seus filhos que soube honrar a sua terra e Portugal.”


05 outubro 2013

5 de Outubro: recordar António José de Almeida


[António José de Almeida: um Beirão de projecção nacional] 
 
No Verão de 1929 realizou-se em Castelo Branco o IV Congresso das Beiras. António José de Almeida fora convidado para estar presente. A doença, que há longos anos o atormentava e que no Outono seguinte lhe causará a morte, impedirá essa deslocação. No entanto, não deixará de endereçar uma mensagem onde enaltece o “passado heroico” desta região. “Beira Una”, que é a “expressão suprema” de uma “Nação gloriosa, eterna geradora de heróis, de poetas e de mártires”. 
Este sentimento Beirão, expresso no final da sua vida, nascera muitos anos antes. Foi num lugar perdido da Beira - Vale da Vinha - que nasceu a 17 de Julho de 1866. Às terras do Alto Concelho de Penacova se manteve ligado ao longo da vida, quer por laços familiares, quer por relações políticas. Frequentou o ensino primário na sede da sua freguesia – Farinha Podre (actual S. Pedro de Alva.) Teve como professor João Gama Correia da Cunha, natural de Mouronho, mestre atento, desde muito cedo, ao carácter daquele seu aluno. 
Quando em 1890 António José de Almeida, já estudante universitário, se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreve para o jornal conimbricense A Oficina, uma carta em apoio do seu antigo pupilo. Nesse texto, afirma que muito há a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele não aparecem todos os dias”. A sua intuição levou-o também a dizer que o tempo se encarregaria de mostrar que estas suas palavras não eram “lisonja, nem ilusão dum insensato.'' 
Foi na cidade de Coimbra que António José de Almeida manifestou a sua vocação política. No entanto, as primeiras influências republicanas dever-se-ão ao professor das primeiras letras, republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia que conviviam com a respeitada família “Almeida” e que acompanharam pessoalmente o jovem conterrâneo, aquando do julgamento e durante os meses de cárcere. 
Registe-se que o seu pai, José António de Almeida, só adere ao Partido Republicano no dia em que o filho entra na cadeia, quando já era presidente da Câmara de Penacova. Em plena sessão camarária, faz uma declaração que apanha desprevenida a vereação. Declaração que ficou registada em acta e onde, a dado passo podemos ler: “Nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles as minhas forças na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias, me havia de fazer Republicano! Realizou-se, porém, este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.



Programa das comemorações em Penacova
A par de uma aguerrida militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Parte para S. Tomé no ano seguinte, onde virá a exercer clínica. Regressa em 1903 e ainda nesse ano inicia uma viagem de estudo que se estenderá até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda. Em 1906 integra o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, são eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. 
A luta intensifica-se através da imprensa e da realização de inúmeros comícios, onde a presença de António José de Almeida é uma constante. 
Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, é preso, juntamente com outros republicanos. Em Abril desse ano é novamente eleito. Agora, o Partido Republicano consegue eleger sete membros para a Câmara dos Deputados. Em Abril de 1909, no Congresso daquele partido e por indicação da Carbonária (recorde-se que em 1907 entrara para a Maçonaria) assume a direcção civil do Comité Revolucionário.
 António José de Almeida continua a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Refira-se Viseu no dia 8 de Março de 1908, Tábua um ano depois e S. Pedro de Alva em 1 de Agosto de 1909. A este último local, terão acorrido milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. A data ficará marcada na história local como sendo a primeira e única vez que António José de Almeida se dirigiu em público às pessoas que o viram nascer e frequentar os bancos da escola primária. 
No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia do Comício foi inaugurado em S. Pedro de Alva um Centro Republicano. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirma que é preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano ''não tem força'' sendo, portanto, inevitável conquistar os direitos ''não só pelas palavras mas também pelas armas.'' 
Com a proclamação da República, António José de Almeida integra o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho), irão até 1919 ocupar o espectro partidário republicano. 
Com a criação do Partido Evolucionista (o I Congresso realizar-se-á em Lisboa a 8 de Agosto de 1913) a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, reforça os contactos e cimenta as simpatias, principalmente nos concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua). As movimentações de António José de Almeida passam por Tábua (Março de 1913), acompanhado de António Granjo e de outros republicanos. 
No comício que aí se realizou, mais uma vez se revelou como “o homem eloquente de sempre”, dirá o Jornal de Arganil, órgão do Centro Republicano Evolucionista, fundado em Março de 1913 por Alberto Veiga Simões. O primeiro número daquele jornal dirá que o concelho, na sua quase totalidade, abraçara a política evolucionista. Veiga Simões virá a ser convidado por António José de Almeida para “redactor político” do jornal República. Em Arganil, Ventura da Câmara, da Quinta do Mosteiro (Folques) é outro nome a reter no conjunto dos militantes evolucionistas da região.
 Em Penacova vamos encontrar Amândio dos Santos Cabral à frente do Jornal de Penacova, periódico fundado em 1901 mas que agora se assume como órgão concelhio do Partido Evolucionista. Neste concelho as movimentações de apoio são intensas, o ideário do novo partido e as inúmeras adesões são noticiadas na imprensa local[1]. Em Oliveira do Hospital, segundo crónica do Jornal de Arganil, apesar de existir uma “simpatia latente” por António José de Almeida, o concelho ainda não decidira “abraçar este ou aquele partido”. Caso estranho, pois Oliveira do Hospital revelara-se como sendo um dos concelhos “mais bulidos pela política” após a Implantação da República. As críticas recaem em Augusto de Mattos-Cid, advogado, que no dia 7 de Outubro assumira a presidência da Comissão Administrativa Republicana e manifestava, agora, simpatias por Afonso Costa. 
A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916) e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos. A ruptura desta “coligação” dar-se-á no dia 25 de Abril de1917. 
Regressará em 1919, agora como Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.
 É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”. 
Vitimado pela doença (gota) que o acompanhou ao longo da vida, morre em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva preenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com o título: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida''. Periódico que poucos meses antes, recebera uma carta onde aquele seu ilustre conterrâneo prometia escrever “umas linhas” para o mesmo, logo que “estivesse melhor dos seus padecimentos”. Também a Comarca de Arganil publicará uma notícia com foto sua e uma gravura da casa de Vale da Vinha, escrevendo que “com o desaparecimento do Dr. António José de Almeida” perdia “a Pátria um dos seus maiores soldados e a República um dos seus maiores generais.” 
Durante vários anos a imprensa local e regional não deixou cair no esquecimento a data de 31 de Outubro, mas só com o 25 de Abril a figura de António José de Almeida foi em certa medida reabilitada, depois ter sido silenciada durante muitos anos. ''Finalmente possível…'' é o título do artigo publicado pelo Notícias de Penacova respeitante à homenagem que se iria realizar no dia 5 de Outubro de 1974 naquela vila. ''António José de Almeida sob silêncio do cemitério'' será outro título da mesma edição, com a assinatura de Urbano Duarte, padre e jornalista, ligado ao jornal diocesano Correio de Coimbra. 
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto de António José de Almeida, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Na cerimónia, usou da palavra, além de outras individualidades, o Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale que, curiosamente, havia iniciado funções na véspera. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). Em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade. 
Para completar este reconhecimento concelhio, aguarda-se que o Município de Penacova faça a compra e a recuperação da casa onde nasceu aquele estadista. O antigo “solar” de Vale da Vinha começa a ameaçar ruína. A instalação de uma Casa-Museu ou de um Centro de Estudos, seria uma hipótese que muito dignificaria aquele espaço carregado de memórias que urge preservar. 
Para um conhecimento da vida e da obra de António José de Almeida é incontornável a consulta da “biografia ilustrada” António José de Almeida e a República, de Luís Reis Torgal e Alexandre Ramires, publicada em 2004. De referir ainda, quer o livro de Ana Paula Pires, editado em 2012, António José de Almeida: o Tribuno da República, quer a colectânea Quarenta Anos de Vida Literária e Política, em quatro volumes, reunindo discursos e outros textos, publicada em 1933. 
Recorde-se que António José de Almeida, além de grande orador (nos Comícios, na Câmara dos Deputados, no Governo e na Presidência da República) utilizou também a escrita, em especial a jornalística, para expressar as suas ideias. Assinou inúmeros artigos em jornais e publicações republicanas e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). 
Escrevia Júlio dos Santos, em 1932, n’ A Voz de S. Pedro de Alva: “Se ao advento da República Miguel Bombarda deu Cérebro, Pensamento, Equilíbrio; se Cândido dos Reis lhe deu Corpo, Forma; António José de Almeida deu-lhe o Verbo. Verbo que é Sopro de Deus!”

David Almeida
Artigo publicado na Revista Ipsis Verbis (ver referência AQUI)



[1]  Sobre a República e o republicanismo em Penacova, cfr. David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local. Edição da Câmara Municipal de Penacova, 2011.
 
Pormenores da Revista IPSIS VERBIS
[clique para ampliar]


06 outubro 2012

Cinco de Outubro em Penacova: reflexos na comunicação social de hoje

LEIA MAIS NA EDIÇÃO IMPRESSA DO JORNAL
DIÁRIO AS BEIRAS DE HOJE 6 DE OUTUBRO
LEIA MAIS NA EDIÇÃO IMPRESSA DO JORNAL
DIÁRIO DE COIMBRA DE HOJE 6 DE OUTUBRO
A SICNOTÍCIAS DIVULGOU DURANTE TODO O SERÃO DE
ONTEM, EM RODAPÉ, O LANÇAMENTO DO LIVRO