25 abril 2014

Memórias do 25 de Abril em Penacova


A notícia da Revolução foi recebida em Penacova, como em muitos pontos do país, com um misto de entusiasmo e de apreensão por parte da população em geral. Foi só no dia 1 de Maio que  as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município ( recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).

Dessa Comissão  faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.

Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também  o Engº Castro Pita.


Teófilo Luís Marques da Silva
(Foto do Jornal de Penacova 2002)

Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.

Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
José Alberto Costa
(Foto do Jornal de Penacova 1998)
Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril  e 31 de Dezembro de 1976.

Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”

Em Dezembro de 1976 têm lugar as primeiras eleições para as Autarquias Locais, saindo vencedor o Partido Socialista, passando a presidir à Câmara Municipal o Dr. Artur Manuel Sales Guedes Coimbra e à Assembleia Municipal o Dr. Eurico Almiro Meneses e Castro. Nesse acto eleitoral, nas listas para a Câmara, o PS obteve 2081 votos, o PPD, 2029, o CDS, 1302 e a FEPU, 550 votos.
Recorde-se que nas eleições legislativas de 25 de Abril de 1976 o PPD havia vencido com 3041 votos, seguido do PS com 2884, CDS com 978 e PCP com 515.


Recordemos mais um ou dois episódios que se encontram registados na imprensa local.

No dia 6 de Outubro de 1974, milhares de pessoas em todo o pais decidiram responder ao apelo para a realização de um dia de trabalho voluntário para a Nação. Também em Penacova a iniciativa foi acolhida. “Mostrar desta maneira que comungamos num Portugal ressurgido…Que ajudamos de alguma maneira a economia nacional com o produto do nosso esforço. Procedendo assim mostramos obras e não paleio que disso está o mundo cheio. É assim que se vê quem são os Democratas” – escrevia Luineses no NP.

Um outro apontamento refere-se à tomada do “Lar das Enfermeiras” (em Lorvão) pelo povo em Agosto de 1975 para servir de Casa do Povo. 

Escreve o jornal “ O Povo entusiasmado com o que ouve na rádio e lê nos jornais, resolveu tomar uma atitude, tomando as instalações do lar”. 
 
Assalto ao "Lar das Enfermeiras" em Lorvão
(fotografia publicada pelo Jornal Nova Esperança)

De referir, por último que a imprensa local foi cautelosa perante a revolução. Só no dia 4 de Maio o “Notícias de Penacova” dá algum destaque aos acontecimentos .O editorial “Mudança de Rumo” mantém contudo muitas reticências quanto ao correcto uso da liberdade restituída ao povo português. 

1 comentário:

  1. "O Povo é quem mais ordena dentro de ti ó cidade"
    No Brasil, os jornais deram destaque à data. Inteirando-me um pouco mais sobre o assunto fiquei sabendo da canção "Grôndula Morena", de Zeca Afonso. Busquei a música no Youtube; muita linda. Quis saber o significado de grôndola; encontrei que existe o Concelho de Grôndola, e o significado que tem hoje, por causa da música e do momento histórico; virou até verbo, no sentido de protestar, fiquei sem o sentido original, ou a razão do título da música.
    Abraços
    Paulo T J Santos

    ResponderEliminar